segunda-feira, janeiro 24, 2005

Mar do Meco (poema à posteriori…)

Acho-te percorrendo as dunas
em pensamento
Perco-te nas ondas vagas
no esquecimento
Encontro-te a cada passo
e num momento
Perco-te e não te acho
que sofrimento!
Sinto o mar revolto
e não te vejo
Estás perdida na bruma
na manhã fria
Pressinto-te no mar do Meco
e estremeço
Morro ao pensar que te tenho
e te não mereço!

1 comentário:

My shadow and I disse...

"Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A princesa que dormia.
(maio — 1934)
Fernando Pessoa