sexta-feira, abril 27, 2007

Tarde de engano (Poema do ciúme...)


Rapariga com brinco de pérola (1665-1666)
Johannes Vermeer

Ergo-me numa fúria imensa
A minha força toda,
A minha raiva,
Para afastar de ti
… os meus fantasmas

Queria
que se desfizessem na bruma
Fria,
Duma certa manhã de primavera.

Queria
Que não tivessem rosto,
Não sorrissem
Nem tivessem forma,
Irreais!

Queria
Que te não tocassem.
Como eu te toco o corpo todo,
Dedos percorrendo-te
A língua
Sedenta dos teus beijos.

Queria
Que te não olhassem nos olhos
Lânguidos, no culminar do êxtase.
Numa tarde de engano!

Queria…
Mas olho os teus olhos,
O teu sorriso cúmplice...
E triste,
Sofrido,
Impotente,

Pressinto que não há fantasmas
Irreais….

Lisboa, 27 de Abril 2007