segunda-feira, agosto 01, 2005

...Terra Quente e Terra Fria

Chãs - Vila Nova de Foz Côa

...Toda a vertente esquerda do Doiro até aos contarfortes do Montemuro, carne administrativamente enxertada num corpo alheio, que através do Côa, do Távora, do Torto, do Balsemão, desagua na grande veia cava materna as lágrimas do exílio.

Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição.

Terra-Quente e Terra-Fria. Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve. Serras sobrepostas a serras. Montanhas paralelas a montanhas.

...Não se sabe por que maneira este solo é capaz de dar pão e vinho. Mas dá! Por ser pão e por ser amassado com o suor do rosto. Sabe a trabalho. Mas é por isso que os naturais o beijam quando ele cai no chão...

[Miguel Torga. Portugal]

...
Olha queres ouvir-me?-
às vezes sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:

Era uma vez uma princesa
no meio do laranjal....

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
eu saí da moldura
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

[...Extracto do Poema à mãe, de Eugénio de Andrade]

Nada mais óbvio que pensar em ti, ao percorrer estas fragas que te viram nascer, crescer, amar e chorar!

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